sábado, 30 de outubro de 2010

Mineração é fonte de renda para 6 mil

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Mineração é fonte de renda para 6 mil

Província Pegmatítica da Borborema, também alcança municípios do Rio Grande do Norte e do Ceará

Daniel Motta e Thadeu Rodrigues

O alto potencial mineralógico do Estado da Paraíba - especialmente do território que compreende as regiões do Cariri, Curimataú e Seridó, caracterizado como Província Pegmatítica da Borborema - é uma das principais fontes de renda para aproximadamente 6 mil garimpeiros. A atividade beneficia de forma direta cerca de 20 mil pessoas. Enormes jazidas cortam as três microrregiões, que englobam mais de 20 municípios onde são explorados os minerais.

A Província Pegmatítica da Borborema, que também alcança municípios do Rio Grande do Norte e do Ceará, é considerada No subsolo desse território encontra-se uma diversidade de minerais, como quartzo, mica, feldspato, caulim, e gemas, a exemplo de berilo, rubilita e turmalina Paraíba, esta última considerada a pedra preciosa mais cara do mundo.

Os principais municípios onde a exploração é mais intensa são Salgadinho, Pedra Lavrada, Junco do Seridó, Frei Martinho, Picuí e Nova Palmeira. Juntos, eles são responsáveis pela produção de 100% da atividade mineral da região. Considerados no mercado como da melhor qualidade, estes minerais são comercializados tanto no mercado interno, como externo, a exemplo de Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo e até outros países como França, Alemanha, Suíça, Itália e Japão.

Segundo o professor aposentado do curso de Engenharia de Minas, José Aderaldo de Medeiros, atualmente o comércio de minerais na Paraíba está voltado essencialmente para a produção de mica, feldspato, quartzo, tantalita, granitos e pegmatitos, que possuem uma multiplicidade de aplicações, tanto na indústria como na ornamentação.

Segundo ele, o comércio de minerais na Paraíba não tem mais hoje a mesma força econômica que já teve em épocas passadas. “Até 1980, que era o tempo da chelita, era que se via mais movimentação desse setor na Paraíba, em Campina Grande. Hoje, esse comércio é mais concentrado nas próprias cidades do Cariri, Curimataú e Seridó, onde existe a produção mineral”, explicou Medeiros.

Feldspato

De acordo com o gestor do programa APL Minerais, do Sebrae, Marcos Magalhães, dentre os minerais mais produzidos na região, destaca-se o feldspato, extraído em praticamente todos os municípios da província, porém, com mais ênfase na cidade de Pedra Lavrada. Ele representa 70% da produção local. “Existem muitos minerais nessa região, porém, o feldespato é um dos mais encontrados e também mais procurados no comércio. Porém um grande problema que existe nesse comércio é o fato de que é difícil de controlar a receita na região porque a produção tende a migrar para o Rio Grande do Norte. Se ficasse toda na Paraíba, iria ser mais rentável para as populações”, salientou.

Segundo Magalhães, a APL Minerais fez um convênio com o Departamento Nacional de Produção mineral (DNPM), para fiscalizar o comércio de minerais e controlar a receita na região. Ele disse que os garimpeiros que possuem as minas registradas têm a responsabilidade de pagar a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem). Dos recursos obtidos com a Cfem, 65% são destinados ao município produtor, 23% vai para o Estado onde foi extraída a substância mineral e 12% é destinada a União.

Renda de R$ 2 mil

Na cidade de Frei Martinho, no Curimataú paraibano, existem aproximadamente 10 garimpos em atividade e registrados. Eles empregam cerca de 50 garimpeiros da cidade e de municípios vizinhos, como Picuí e Nova palmeira. Com destaque para exploração e beneficiamento da mica e do feldspato e quartzo, este último em maior quantidade, os garimpeiros conseguem lucrar mensalmente até R$ 2 mil. Com este valor, os garimpeiros pagam 10% para o proprietário da terra onde acontece a exploração.

Segundo o presidente da Cooperativa Frei Martinho, José Pereira Dantas, depois que os garimpeiros pagam todas as despesas do trabalho, acabam ficando com um saldo liquido de mais R$ 800. “Essa é a fonte de renda de centenas de pessoas da região e não pode acabar nunca porque ela representa a principal economia do município, emprega muita gente e ainda fortalece a economia local”, explicou o presidente. Segundo Dantas, a mineração representa 70% da renda do município de Frei Martinho. Ele disse que por mês, são produzidas na cidade, 30 toneladas de mica, 30 toneladas de feldspato e 50 carradas de caulim.

A tonelada de feldspato é comercializada ao preço de R$ 30, a tonelada da mica é vendida por R$ 45 e a carrada de caulim custa R$ 80. Toda a produção é vendida para as cidades de Campina Grande e João Pessoa e também é exportada, em maior quantidade para o Rio Grande do Norte, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais e até para a França e a Suíça. “Graças a Deus, os nossos minerais são de boa qualidade e por isso são bastante procuradas. Só o que falta é essa atividade ser mais valorizada e haver investimentos”, comentou Dantas.

PB integra 2ª maior região produtora

A Paraíba está localizada na segunda principal região produtora de minérios e pedras preciosas do País, a Província Pegmatítica da Borborema, que também inclui Rio Grande do Norte e Ceará. Nos municípios de Piancó, Junco do Seridó, Assunção, Pedra Lavrada, Picuí, Santa Luzia, São José do Sabugi, São Mamede, Malta, Taperoá, Juazeirinho, Cubati, Pedra Lavrada, Nova Palmeira, São Vicente do Seridó e Salgadinho podem ser encontrados ouro, tantalita, água-marinha e turmalina Paraíba, pedra que vale mais de US$ 20 mil por quilate.
A informação é de Carlos Cornejo, jornalista e autor do livro Minerais e Pedras Preciosas do Brasil, que lançou a obra na quinta-feira (30), no 45º Congresso de Geologia, em Belém do Pará. De acordo com o estudioso, desde quando há presença do homem na Paraíba, a exemplo dos índios, há utilização dessas pedras em pontas de flechas, machados, utensílios domésticos, estatuetas para rituais e até mesmo em peças de arte e ornamentação.
“O Brasil tem uma grande riqueza mineral. É o maior produtor mundial de turmalina, de quartzo e de berilos e, como é habitado há milhares de anos, encontramos diversos artefatos feitos em rochas como o granito, em minerais como o quartzo, e até em gemas ou pedras preciosas como turmalina”, afirma Carlos Cornejo. Ele destaca, em seu livro, diversas peças de arte lítica da região do Seridó, como colares e pingentes.

Carlos Cornejo evidencia que a turmalina Paraíba é a gema brasileira com maior preço por quilate no mundo. Ele estima que cada quilate vale mais que US$ 20 mil no mercado de jóias e caracteriza a turmalina Paraíba, também chamada de cuproelbaíta, como cristais de cores exóticas ou azul-claros ou esverdeados e até bicolores com tons roxos.

Um dos colaboradores do livro, o geólogo José Aderaldo Ferreira, diz que as primeiras pedras de turmalina Paraíba foram identificadas no cadastramento gemológico coordenado por ele e realizado pela UFPB e pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), de 1981 a 1987. Ele cita que um garimpeiro encontrou as pedras de forte coloração azulada e mostrou ao minerador Heitor Barbosa, que suspeitou haver valor gemológico e encontrou o local onde a amostra foi produzida, no ano de 1983. Mas foi em 1989 que as turmalinas de cores azul-neón foram encontradas em grandes quantidades, na vila de São José da Batalha, no município de Salgadinho.

No livro de Carlos Cornejo consta que Heitor Barbosa estava ausente na descoberta e a produção foi vendida sem seu consentimento, o que deu início a uma batalha judicial. O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) dividiu a área em três partes, sendo uma para Heitor, outra para João Silvestre, que havia requerido a área para pesquisa e outra para um casal local que havia se associado a uma empresa americana de mineração.

Tantalita no Seridó

Nos municípios de Junco e Assunção, na Paraíba, estão as melhores amostras de tantalita do Brasil, minério rico em manganês com uma coloração vermelha intensa e transparente, muito procurado por colecionadores e gemólogos. O tântalo é utilizado em ligas de aço, que são empregadas na fabricação de turbinas, por resistirem à corrosão e por suportarem altas temperaturas. O uso acontece também na telefonia celular, no que se refere à condução de eletricidade e na instrumentação cirúrgica, porque o tântalo evita a reação dos tecidos do corpo humano ao seu contato.

Segundo Carlos Cornejo, a exploração econômica desse tipo de mineral foi intensificada na Segunda Guerra Mundial e o comércio era centrado em Campina Grande. Os minerais foram descobertos em 1928 e a única mina de tantalita no Brasil é no município de Nazareno, em Minas Gerais.

Ouro em Princesa Isabel

A riqueza mineral descoberta há mais tempo, na Paraíba, é o ouro de Princesa Isabel, em 1864. Um dos colaboradores do livro, o geólogo José Aderaldo Ferreira, diz que em 1930 uma empresa anglo-belga instalou-se no município e começou a exploração do metal precioso. “Depois da instalação desta empresa, teve início uma fase de garimpagem conduzida por faiscadores que ainda continua, mas com pequenas produções”.

Contudo, ele diz que, se o trabalho é feito, é porque há ganhos que o justificam. O acesso ao minério acontece por meio de poços verticais de exploração, com profundidades superiores a cem metros. O geólogo destaca um episódio ocorrido no município de Piancó, em 1941, quando um agricultor foi colocar estaca em cercado de uma fazenda e encontrou uma pedra com diversas pepitas de ouro, algumas com até 200 gramas. O local ficou conhecido como “Mina de Ouro do Piancó”. Em quase três anos, três mil homens no garimpo produziram mais de dez toneladas de ouro.

Em 1946 o Departamento Nacional de Produção Mineral iniciou uma pesquisa do ouro na região e estimou, em 1948, haver cinco toneladas do metal. Segundo José Aderaldo Ferreira, ainda é encontrado ouro na região e, para ele, não se pode afirmar que a região, que tanto produziu ouro no passado, não possa voltar a produzir como antes.

Minérios industriais são principal fonte de renda em Nova Palmeira

No município de Nova Palmeira, também no Curimataú do Estado, cerca de 300 garimpeiros vivem da extração e beneficiamento de minerais. Ao todo, existem na região mais de 60 jazidas em atividade e cerca de 100 desativadas. As principais espécies minerais exploradas na região são os da classe dos industriais, a exemplo do feldspato, mica e quartzo e das gemas rubilita e berilo. Na cidade a exploração mineral já tem mais de 60 anos e a atividade é o principal meio de sobrevivência de mais de mil pessoas.

De acordo com a presidente da cooperativa de garimpeiros de Frei Martinho, Rutineia 85% da renda do município é proveniente da atividade mineral. “È por isso que nos clamamos por melhorias, investimentos no setor para que esse trabalho seja mais valorizado. Precisamos que outras empresas que compram a matéria prima comprem nossos minerais para poder valorizarmos mais e para os garimpeiros poderem lucrar mais já que o trabalho deles é tão árduo”, disse.

Em Várzea, no Seridó do Estado, 750 trabalhadores vivem da produção mineral e cada garimpeiro consegue lucrar por mês até R$ 800. Na região, os minerais mais abundantes são da classe industrial, com destaque para o quartzito, muito utilizado no revestimento de paredes. Os garimpeiros vendem suas produções para outros todo o Nordeste, e para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e África do Sul. Para poder explorar as jazidas, eles se comprometem a pagar 20% ao proprietário da área produtiva.

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